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Introdução

Definição

Consiste na existência de colecção líquida uni ou bilateral, em qualquer local do trajecto de descida do testículo para a bolsa escrotal. 

Essa colecção líquida pode observar-se ao longo do canal inguinal, através de um canal peritóneo-vaginal que não encerrou, ou estar localizada apenas na(s) bolsa escrotal (o mais frequente).

Pode ou não ser possível esvaziá-lo, o que o classifica como hidrocelo comunicante ou não comunicante. 

Causa

É geralmente consequência de encerramento tardio do canal peritóneo-vaginal (ver causa de hérnia inguinal).

Observa-se com maior frequência associado a ascite, derivação ventrículo-peritoneal para tratamento de hidrocefalia ou outras situações de aumento da pressão intra-abdominal (ascite).

Pode resultar também de um processo reaccional da camada vaginal do escroto a patologia testicular (inflamação, infecção, tumor ou trauma directo).

A diferença entre hidrocelo não reaccional e hérnia inguinal é que nesta o defeito ao nível do orifício inguinal profundo/ canal peritóneo-vaginal é largo, permitindo exteriorizar uma víscera sólida, enquanto que no hidrocelo não complicado o defeito é estreito, permitindo apenas a passagem de líquido intra-abdominal.

Epidemiologia

A incidência é de 5% das crianças, com um predomínio do sexo masculino (15:1). Em recém-nascidos de muito baixo peso pode surgir em até 20% dos casos. É mais frequente à direita (60%), podendo ser bilateral (15%).

História Clínica

Anamnese

Um hidrocelo não complicado (não reaccional) é congénito, pelo que o seu diagnóstico pode ser muito precoce. Observa-se o aumento indolor da(s) bolsa escrotal, de início súbito ou crescimento progressivo, ou um “quisto” ao longo do canal inguinal, que pode ser volumoso (5 cm ou mais de eixo maior) e tenso.
Se é possível esvaziá-lo, espremendo-o suavemente para o abdómen, trata-se de hidrocelo comunicante. Neste tipo de hidrocelo os pais observam variação de volume da bolsa escrotal ao longo do dia (o hidrocelo é mais pequeno ao acordar, e torna-se maior ao fim do dia).

Não sendo possível esvaziá-lo trata-se de hidrocelo não comunicante. Comunicante ou não, o hidrocelo não tem qualquer risco para a saúde, não provoca dor, e tem tendência a desaparecer até aos dois-três anos de idade.

Se apareceu subitamente e a bolsa escrotal é dolorosa à palpação, pode ser resultante de trauma escrotal (história clínica), tumor ou processo inflamatório/ infeccioso do testículo, que provoque um processo inflamatório da camada vaginal do testículo.

Exame objectivo

Deve-se começar por examinar a criança de pé. Salta à vista a assimetria das regiões inguinais/ bolsas escrotais. Observa-se o aumento de volume da(s) bolsa escrotal eventualmente prolongada ao longo do canal inguinal, palpando-se como uma massa quística, mais ou menos tensa, indolor à palpação.

Se é possível esvaziá-lo, “espremendo-o” em direcção ao abdómen, o hidrocelo é comunicante - uma forma minor de apresentação de hérnia inguinal.

Tratando-se de hidrocelo por persistência do canal peritóneo-vaginal, o cordão espermático homolateral apresenta-se mais espesso que o contralateral, o que se diagnostica rolando-o sob os dedos contra a espinha do púbis.

Se o canal peritóneo-vaginal fez uma oclusão proximal, existe uma bolsa quística não redutível, tratando-se de hidrocelo não comunicante.

A transiluminação da bolsa escrotal facilita o diagnóstico: observa-se uma colecção líquida não septada.

Hidrocelo transiluminado
Canal peritóneo-vaginal

 

Diagnóstico Diferencial

Faz-se com a hérnia inguinal, com testículo não descido eventualmente torcido ou com situações de aumento de volume do testículo resultante de orquite, torção testicular, tumor ou trauma directo testicular.

Exames Complementares

Patologia Clínica

Em caso de dúvida um hemograma completo pode excluir um processo inflamatório/ infeccioso testicular. A suspeita de tumor testicular pode ser confirmada através da medição de marcadores tumorais.

Imagiologia

Quando, face a uma história contada pelos pais, não conseguimos excluir a presença de hérnia ou torção testicular, está indicada uma ecografia inguinal e escrotal bilateral.

A ecografia está também indicada para confirmar suspeita de hérnia inguinal contralateral.

Tratamento

A expectativa é muitas vezes a melhor atitude terapêutica, sendo legítimo protelar a intervenção cirúrgica de hidrocelo até aos dois-três anos, na espectativa do seu encerramento espontâneo, dada a frequência com que ocorre e a ausência de risco.

Cirurgia

Tem indicação evntual no hidrocelo resultante de persistência do canal peritóneo-vaginale. Consiste na laqueação alta do canal, realizada através de inguinotomia. É uma intervenção realizada em ambulatório.

Evolução

O prognóstico é bom, a cirurgia é curativa, em condições normais pode ser realizada em ambulatório.

A criança retoma as suas actividades em sete dias, iniciando desporto dentro de 15 dias.

Recomendações

Prevenir os pais da possibilidade de ocorrência de hérnia, sobretudo em famílias em que a hérnia inguinal é recorrente, de modo a permitir o seu diagnóstico e tratamento atempado.

Bibliografia

Skoog SJ, Conlin MJ. Pediatric hernias and hydroceles. The urologist's perspective. Urol Clin North Am 1995; 22:119.

Kapur P, Caty MG, Glick PL. Pediatric hernias and hydroceles. Pediatr Clin North Am 1998; 45:773. 

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