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Introdução

Definição

Doença provocada pelo vírus Lassa, que pertence à família Arenaviridae.

O nome do vírus Lassa deve-se ao facto de ter sido identificado, pela primeira vez, em 1969, na cidade de Lassa, Nigéria, em duas enfermeiras missionárias.

Epidemiologia

É endémica na Libéria, Serra Leoa, Guiné Conacri e Nigéria, mas pode ser encontrada noutros países de África, estimando-se em cerca de 200 000 a incidência anual na África Ocidental.

É uma zoonose veiculada pelos ratos Mastomys natalensis e transmitida aos seres humanos principalmente por ingestão ou inalação de produtos contaminados pelas suas fezes ou urina. A transmissão também pode ocorrer entre os humanos pelos mais diversos líquidos corporais, incluindo sémen.  

O período de incubação é 2 a 21 dias.

História Clínica

Os sinais e os sintomas, presentes apenas em cerca de 20% dos infectados, são vários e inespecíficos: mal-estar, febre, faringite, conjuntivite, tosse seca, náuseas, vómitos, diarreia, dor lombar, abdominal e torácica, fraqueza, tremores, hipoacúsia, meningismo e, a partir da primeira semana, nos casos graves, derrame pleural e pericárdico, ascite, edema pulmonar e facial, manifestações hemorrágicas, choque e falência multi-órgão; aborto e alta taxa de mortalidade materna se a infecção é contraída durante a gravidez.

Diagnóstico Diferencial

Infecções virais febris

Leptospirose

Malária

Febre tifóide

Diagnóstico

Atendendo à inespecificidade da sintomatologia o contexto epidemiológico deve estar sempre presente.

Serologia ELISA: IgM positiva na fase aguda e IgG na convalescença.

Detecção do antigénio Lassa.

(RT)-PCR.

Isolamento do vírus pode ser feito em culturas de sangue, urina, exsudado faríngeo e Líquido Céfalo Raquidiano mas, o alto perigo de contágio, requerendo extremas medidas de segurança pelo pessoal de laboratório e afins, torna-o de certo modo impraticável de uma maneira generalizada.

Alterações laboratoriais inespecíficas:

-leucocitose, leucopenia ou contagem de leucocitos normal

-pode haver trombocitopenia e alterações da função das plaquetas

-aumento de valor do hematócrito.

Tratamento

Deve ser efectuado nas melhores unidades hospitalares (Unidade de Cuidados Intensivos, se disponível).

Medidas gerais:

-isolamento do paciente, em sala de pressão negativa, se disponível

-paracetamol para alívio da febre e da dor

-correcção do desequilíbrio hidroelectrolítico

Tratamento específico (ribavirina é eficaz).

Pode reduzir a mortalidade em 90%, se introduzida nos 6 primeiros dias da infecção.

A introdução após este período pode também reduzir significativamente a mortalidade.

  • Ribavirina i.v.: 30 mg / Kg (máximo 2 gr) dose inicial, seguindo-se 16 mg / kg (máximo 1 gr), 6/6 h, 4 dias e 8 mg / kg (máximo 500 mg), 8 / 8 h, 6 dias

ou (em cenários de catástrofe):

  • Ribavirina oral:
    • Crianças: 30 mg / kg, dose inicial, seguida de 7,5kmgk/ g, 2 x / dia, 10 dias;
    • Adultos com peso inferior a 75Kg: 1200mg, dose inicial, seguida de 400 mg de manhã e 600 mg á noite, 10 dias;
    • Adultos com peso igual ou superior a 75 kg: 2000 mg, dose inicial, seguida de 600 mg 2 x / dia, 10 dias.

Administração da ribavirina deve ser iniciada assim que houver suspeita de infecção por vírus Lassa e interrompida caso esta não se confirme laboratorialmente.

Evolução

Nos casos graves a mortalidade pode ultrapassar 20%.

Surdez definitiva pode surgir após a cura, independentemente da gravidade da doença.

Recomendações

As populações das regiões endémicas devem ser informadas das melhores regras de prevenção.

Tomar todo tipo de medidas para evitar contacto com fezes e urina dos ratos:

  • Protegendo as habitações
  • Dormindo em posição não acessível aos ratos
  • Usando água potável
  • Lavando sempre bem as mãos antes de comer ou preparar os alimentos
  • Armazenando e cozinhando bem os alimentos.

O pessoal, tanto o cuidador directo de pacientes infectados como o que procede à análise do seu sangue e outros produtos biológicos, deve usar luvas, máscaras, óculos e vestimentas protectoras.

Materiais e equipamentos usados no tratamento do paciente devem ser fervidos ou esterilizados em autoclaves.

Dejectos e fluidos corporais devem ser incinerados ou rigorosamente desinfectados.

Pacientes do sexo masculino devem abster-se de relações sexuais nos 3 meses seguintes à infecção ou até terem o exame do sémen negativo.

Todos aqueles que tiveram contacto com doentes de vírus Lassa devem ficar, pelo menos 3 semanas, sob vigilância rigorosa de sinais de infecção sendo a sua temperatura corporal avaliada 2x/dia.

Administrar ribavirina a todo o indivíduo cujas mucosas tiveram contacto com sangue de infectados com vírus Lassa.

Após falecimento o corpo deve ser imediatamente selado e incinerado ou enterrado o mais rapidamente possível.

Bibliografia

  1. Davidson R, Brent A, Seale A. Tropical Medicine, 4th edition. Oxford University Press, 2014.
  2. Kwan-Gett TSC, Kemp C, Kovarik C. Infectious and Tropical Diseases, 1th edition. Mosby Elsevier, 2006.
  3. Matthews PC. Tropical Medicine Notebook, 1thedition. Oxford University Press, 2017.
  4. Torok E, Moran E, Cooke F. Infectious Diseases and Microbiology, 2nd edition. Oxford University Press, 2017

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