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Introdução

A ecocardiografia transtorácica utiliza ultrassons para a obtenção de imagens do coração e grandes vasos em tempo real. A integração das imagens obtidas permite avaliar a estrutura e função cardíacas.

Técnica

As imagens são obtidas por um operador ao aplicar um transdutor ou sonda ecográfica que gera um feixe de ultrassons, conduzido através de gel específico para ecografia até às estruturas de interesse, sendo o som reflectido recolhido pelo dito transdutor e utilizado para gerar imagens dessas mesmas estruturas.

As imagens geradas podem reproduzir o que se passa num único feixe de ultrassons ao longo do tempo (modo M, com pouca definição anatómica mas óptima definição temporal e de distâncias) ou num plano de 2 dimensões em tempo real (modo bidimensional). Alguns ecógrafos mais modernos têm ainda a capacidade de gerar imagens de todo o espaço contido num cone tridimensional ou de dois planos bidimensionais ortogonais em simultâneo. Estas imagens permitem a realização de medição de estruturas (sendo o local de medição específico para cada estrutura). Dada a grande variabilidade de tamanho das crianças e as diferentes velocidades de crescimento de diferentes estruturas, a interpretação do valor absoluto ou mesmo indexado à superfície corporal da medição de cada estrutura é pouco fidedigna. Assim, optou-se por criar grandes bases de dados com as medições obtidas em crianças normais para cada superfície corporal, sendo avaliado o número de desvios padrão em relação à média daquela medição para aquela superfície corporal – o chamado z score. É considerado normal um z score entre -2 e +2 (numa população com distribuição normal, 95% da população está contida até 2 desvio padrão da média). Uma estrutura com um z score inferior a -2 será considerada pequena/hipoplásica e com z score superior a +2 grande/dilatada.

Hoje em dia a maioria dos ecógrafos tem a capacidade de interpretar as variações da frequência da onda de ultrassons induzida pela direcção e velocidade das partículas que esta atinge (chamado efeito Doppler). À sobreposição de uma imagem colorida traduzindo velocidade e direcção (habitualmente vermelho quando se dirige para o transdutor e azul quando se afasta) do sangue a cada um dos tipos de imagem obtidos (modo M, bidimensional, tridimensional) chama-se doppler cor e permite avaliar de forma simples e gráfica a presença de fluxos de sangue anómalos como os gerados por uma regurgitação valvular ou defeito de septal. O sinal Doppler pode ainda ser apresentado isoladamente, sob a forma de Doppler espectral. Este pode ser recolhido ao longo de todo o feixe de ultrassons (Doppler contínuo ou CW) ou apenas num local de recolha (Doppler pulsado ou PW). Estas imagens fornecem informação precisa acerca da velocidade do sangue e permitem avaliar, entre outros, estenoses valvulares e diferenças de pressão entre duas câmaras cardíacas. Finalmente, é possível na maioria dos ecógrafos modernos obter informações sobre o sinal Doppler gerado pelo miocárdio (o chamado Doppler tissular) que nos fornece alguma informação funcional útil, embora não existam ainda valores de referencia extensamente validados na população pediátrica.

A obtenção de imagens é feita de uma série de incidências ou planos/janelas ecográficas tradicionais, sendo possível e muitas vezes benéfico o recurso a planos adicionais ou modificados, bem como varrimentos de uma estrutura. 

Os planos tradicionais estão representados na tabela 1 e permitem avaliar a estrutura dos diferentes componentes da anatomia cardíaca, bem como a sua conexão. A avaliação da funcional permite obter alguns valores:

1. Função ventricular esquerda:
1.1 Sistólica
    Fracção de Encurtamento (normal 25-45%)
    Fracção de Ejecção biplano (normal ≥55%)
1.2 Diastólica
    Interpretação mais complexa, depende da integração do fluxo transmitral, das veias pulmonares e Doppler tissular.

2. Função ventricular direita:
2.1 Sistólica
    TAPSE (z score -2 a +2)
    Fracção da área de encurtamento do ventrículo direito (normal 32-60%)
    Onda S’ de Doppler tissular 
2.2 Diastólica
    Interpretação mais complexa, depende da integração do fluxo transtricuspide, das veias sistémicas e Doppler tissular.

Da interpretação das imagens e valores obtidos é gerado um relatório do exame.

Indicações

São indicações para a realização deste exame em idade pediátrica:

1. Seguimento de cardiopatia;

2. Suspeita de cardiopatia estrutural:
a. Cianose central (permanente ou episódica);
b. Insuficiência cardíaca congestiva;
c. Sopro cardíaco patológico (nota: é admissível, perante um recém-nascido assintomático com sopro cardíaco de características não patológicas, reavaliar a permanência do sopro antes de referenciar para ecocardiograma);
d. Pulsos femorais diminuídos;
e. Desdobramento fixo de S2.

3. Suspeita de cardiopatia funcional:
a. Insuficiência cardíaca congestiva;
b. Choque;
c. Síncope, especialmente se associada ao esforço físico;

4. Avaliação de doenças sistémicas com envolvimento cardíaco:
a. De forma aguda (p. ex. doença de Kawasaki);
b. De forma crónica (p. ex. doenças neuromusculares como a distrofia muscular de Duchenne);

5. Avaliação de doente com diagnóstico de HTA (exclusão de coarctação e avaliação de hipertrofia ventricular esquerda);

6. Suspeita de endocardite;

7. História familiar de doença cardíaca ou com envolvimento cardíaco com segregação familiar (síndr. de Marfan, miocardiopatias);

8. Rastreio desportivo em atletas com elevada carga;

Limitações

Trata-se de um exame muito útil que nos fornece muitas informações de forma não invasiva. Contudo, tem algumas limitações. 

Por um lado, trata-se de um exame muito dependente do operador, devendo, à partida, ser feitas reavaliações de medições realizadas pelo mesmo operador. Para obter medições correctas é essencial o uso das janelas ecográficas tradicionais o mais optimizadas possível, com boa alinhamento das estruturas. Para avaliação dos sinais Doppler, é essencial um boa alinhamento do feixe de ultrassons com o fluxo avaliado.
Por outro lado, a qualidade da janela ecográfica do doente é muito variável. Existem alguns factores marcadamente prejudicias para a qualidade de imagem, como a obesidade ou a magreza extrema, a presença de patologia pulmonar com hiperinsuflação, deformidades da caixa torácica como pectus excavatum e carinatum e, especialmente, cirurgia torácica prévia. A presença destes factores e de outros factores constitucionais do doente podem limitar a qualidade e por conseguinte a possibilidade de interpretação de algumas imagens. Não é raro, por exemplo, num doente maior com algum excesso de peso não se conseguir excluir totalmente a presença de um pequeno defeito do septo interauricular.

Bibliografia

  1. Geva, T. (2009). Nomenclature and Segmental Approach to Congenital Heart Disease. In Lai, W., Mertens, L., Cohen, M., & Geva, Tal. Echocardiography in Pediatric and Congenital Heart Disease from Fetus to Adult. Chichester: Wiley-Blackwell.
  2. Lai, W., & Ko, H. (2009). The Normal Pediatric Echocardiogram. In Lai, W., Mertens, L., Cohen, M., & Geva, Tal. Echocardiography in Pediatric and Congenital Heart Disease from Fetus to Adult. Chichester: Wiley-Blackwell.
  3. Wharton, G., Steeds, R. (2005). A Minimum Dataset for a Standard Transthoracic Echocardiogram. British Society of Echocardiography Education Committee.

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