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Introdução

Definição

A tosse é um mecanismo fisiológico de defesa respiratória que aumenta a libertação de secreções e partículas das vias aéreas e protege da aspiração de materiais estranhos. O reflexo da tosse é desencadeado pela estimulação (química, tátil ou mecânica) de receptores localizados entre a faringe e os bronquíolos terminais, que enviam, através de ramos dos nervos glossofaríngeo e vago, estímulos aferentes para o centro da tosse, localizado no tronco cerebral. Os impulsos eferentes são transmitidos, através dos nervos vago, frénico e motores espinhais, do centro da tosse para a laringe e músculos respiratórios. O início e supressão voluntários da tosse devem-se ao seu controlo cortical.

A tosse tem 3 fases: fase inspiratória; encerramento da glote, relaxamento do diafragma e contração dos músculos expiratórios; e abertura brusca da glote.

A classificação da tosse não é consensual, mas pode genericamente definir-se tosse aguda (com duração inferior a 3 semanas), crónica (com duração superior a 4-8 semanas) e subaguda (zona cinzenta entre tosse aguda e crónica, com duração de 3-8 semanas).

Epidemiologia

Estudos populacionais revelaram que a tosse isolada reportada pelos pais tem uma elevada prevalência, sendo um dos principais motivos de consulta em idade pediátrica. A tosse reportada tem uma prevalência estimada de 28% nos rapazes e 30% nas raparigas.

História Clínica

Anamnese

Na anamnese deve inquirir-se a natureza da tosse; se é seca ou produtiva; a forma de início (súbito, gradual, relacionada com episódio de engasgamento); a sua duração, frequência, intensidade e relação com actividades diárias (durante ou após as refeições, nocturna, ao acordar, após o exercício, após exposição ao frio). Na eventualidade de existir expetoração, rara nas crianças pequenas, deve caracterizar-se em qualidade e quantidade, cor, cheiro e presença de sangue. Questionar ainda acerca de sazonalidade, agravamento com exposição a potenciais alergénios, e exposição activa e passiva ao tabaco. Documentar sintomatologia acompanhante: febre, pieira, estridor, dispneia, dor torácica, coriza, prurido nasal, odinofagia, otalgia, entre outros.

Avaliar o estado vacinal e contexto epidemiológico.

Exame Objectivo

Avaliar o estado geral e sinais vitais (frequência respiratória e cardíaca, saturação de oxigénio e temperatura). Avaliar outros sinais de dificuldade respiratória como cianose, adejo nasal, tiragem, balanceio da cabeça ou pieira audível. Ter em atenção que algumas características acústicas da tosse apontam para etiologias específicas, como a “tosse de cão”, na laringite viral, o pigarro na rinite alérgica e a tosse coqueluchóide, nas síndromes pertussis.

Realizar otoscopia, rinoscopia e observação da orofaringe. Realizar um exame torácico completo, com especial atenção para a presença de macicez ou hiperressonância à percussão, e auscultação pulmonar com fervores, crepitações, sibilos ou diminuição do murmúrio vesicular, localizados ou generalizados.

Por fim, excluir sinais de doença crónica subjacente, como má progressão ponderal, hipocratismo digital, deformidade torácica ou atopia (xerose cutânea, saudação alérgica).

Diagnóstico Diferencial

A tosse não é uma doença em si mesma, mas é a manifestação principal de um vasto leque de patologias, sendo por isso muito inespecífica. A maioria das crianças com tosse apresenta uma infecção das vias respiratórias superiores (IVRS), mas o diagnóstico diferencial é vasto:

  • IVRS (incluindo constipação, traqueíte, epiglotite e laringite);
  • Infecção das vias respiratórias inferiores (incluindo bronquiolite, bronquite, pneumonia e síndromes pertussis);
  • Aspiração de corpo estranho;
  • Primeira apresentação de doença crónica (por exemplo, asma, rinite alérgica).

Exames Complementares

A maioria das crianças com tosse não necessita de realizar qualquer investigação, já que o seu curso é autolimitado.

Deve considerar-se a realização de radiografia do tórax na presença de: sinais do aparelho respiratório inferior, hemoptises, tosse de agravamento progressivo após 2-3 semanas, ou suspeita de aspiração de corpo estranho ou de patologia respiratória crónica não diagnosticada.

Perante a suspeita de aspiração de corpo estranho, deve ser realizada broncoscopia rígida urgente.

Tratamento

Embora os pais refiram frequentemente benefício na toma de medicamentos de venda livre para o tratamento da tosse (incluindo antitússicos, anti-histamínicos e combinações de anti-histamínicos com descongestionantes nasais), não existe evidência científica robusta que sustente a sua prescrição, havendo ainda o risco de causarem efeitos adversos importantes.

As IVRS requerem tratamento com antipiréticos, hidratação adequada e aspiração de secreções.

Pode estar indicada terapêutica dirigida, na presença de diagnósticos específicos como: pneumonia adquirida na comunidade, laringite, asma e tosse convulsa.

A prescrição de anti-histamínicos e corticóides nasais é benéfica nas crianças com tosse de etiologia alérgica.

Algoritmo clínico/ terapêutico

Adaptado de Shields MD et al. BTS guidelines: Recommendations for the assessment and management of cough in children. Thorax. 2008;63

Evolução

Na maioria das situações, a tosse decorre de infecção respiratória alta e resolve espontaneamente em 3 a 4 semanas. Estudos prospectivos de tosse aguda sugerem que, em 50% dos casos, há remissão da tosse em 10 dias e, em 90%, em 25 dias; assim, 10% ainda têm sintomatologia na terceira e quarta semanas (doentes com evolução para tosse subaguda).

A tosse pode ter um impacto muito significativo, particularmente quando se arrasta no tempo, influenciando negativamente o sono, a actividade diária e a qualidade de vida das crianças e seus cuidadores. O prognóstico é habitualmente bom, tratada a causa subjacente.

Glossário

Tosse: mecanismo fisiológico de defesa pulmonar, que aumenta a libertação de secreções e partículas das vias aéreas, e protege da aspiração de materiais estranhos. Pode classificar-se em tosse aguda, subaguda e crónica.

Bibliografia

  1. Stark JM, Mueller GA. Lung defenses: intrinsic, innate, and adaptive. In: Wilmott RW, Boat TF, Bush A, Chernick V, Deterding RR, Ratjen F, editors. Kendig and Chernick’s Disorders of the Respiratory Tract in Children. 8th ed. Philadelphia: Elsevier Saunders; 2012. p123.
  2. Shields MD, Bush A, Everard ML, McKenzie S, Primhak R. BTS guidelines: Recommendations for the assessment and management of cough in children. Thorax. 2008;63 Suppl 3:iii1-iii15.
  3. Lamas A, Ruiz de Valbuena M, Máiz L. Cough in children. Arch Bronconeumol. 2014;50:294-300.
  4. Brodlie M, Graham C, McKean MC. Childhood cough. BMJ. 2012;344:e1177.

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